com pele ventada de cicatrizes
[tambor definiu fome sem cor]
urge imbondeiro seco de vertigem
seus dedos caninos ladram secura
como se a pedra desconhecesse
o encalço molhado da boca
invento-me no ritmo pintado
de jihenda volto ao insurgente
som do ngoma wa mukundu
onde toda dança leva incertezas
e sons soletram coragem para
contarem enigmas no eco das raízes
pois agora sei o quanto é importante
o calor do tambor no deserto
das palavras
ao
AO TAMBOR QUE
PAROU DE CANTAR
[primeiro passo] – substituir a inscrição
da ferrugem pela inspecção da pedra
na morfologia da idade [como se fosse
possível catalogar gentes debaixo dos
nossos ombros]
[segundo passo] – orientar a direcção dos
túmulos e preencher o vazio do corpo no
chão cicatrizado de gritos [como se toda
morte não causasse em nós tumores nos
olhos]
[terceiro passo] – ensinar a chuva a
decorar cheiro na geografia dos ventos
para que aprendamos decifrar enigmas
dentro do peito – porque em nós nascem
incertezas [como se fôssemos somente
os tais verbos ambulantes desfazendo-se
na envoltura do chão]
[passo a passo e com passo] – invocar
AMOR NA PRAXE DO ABISMO PARA ETERNIZAR A
PAZ DENTRO DE NÓS…
não mais sou digno de colher fôlego
na gramática diagonal do medo
com que as rugas esfregam
desejos de partida – então
será o abismo o recuo do amor?
[não é o amar a ciência do caos?]
– outro dia entrei-me e abri portas
que me atravessavam na língua
para soletrar a súplica dos olhos
desamparados entre mãos abertas
como se só fizesse sentido ilustrar
a matriz dos ventos no peito
– hoje abri meu próprio túmulo
no chão que se ergue em meus pés
tentando adiantar o meu descanso
[chorarás com flores e abraços?]
então… compreenda que não tem
braços o chão da lágrima em toda
metáfora da morte […]
eu