na veia do silêncio
uma navalha
corvos em rios de pedras
debicam cicatriz
há ventos flechas
soprando para o coração da morte
fundi solitária em Kalomboloca
uma lua pública
espelho e mar
reflexos de sombra medonha
pegadas de verdes madrugadas
no amanhecer da canoa
segue o limão o azedo curso
na boca estigmatizada da chávena
um torto direito que rastejanda
parado no cérebro das ilusões
NAVALHA, MORTE,CANOA E ILUSÕES
Ela abre a gaiola onde esteve detida os seios e me pede que escreva.
São duas aves pendurada no ramo do peito ou condensada mata onde se perdem os poetas
Duas vivas guerras que me fitam com a ponta dos olhos e cinzam a aldeia dos homens
Nestas duas avenidas descalço as sandálias da fome e deposito os cofres do pais
O mundo resumido nas almofadas do prazer
Assim bem acesa como a florescente luz molho-me por inteiro e o poema como as aguas que me escorrem seguem o seu natural curso
O INSTANTE
A vida passa
passa-me a vida no sufoco do tempo
balança com que balanço a geografia
dos passos
Interruptores de divinais caminhos
Indefinidas lâmpadas de PODERES no coma da cidade
Minha canção de suspiro é este som do mar
estas areias mortas-vivas atreladas nas âncoras
do destino esta sopa de letras na tigela do poema
Tributos de mim no mapa da existência
leões de pedras filosofais que me oferecem promessas de palavras
as palavras inventaram a mentira
a mentira é o esperma com o qual engravidamos de esperança os ouvidos do tempo
A vida passa
passa-me a vida com gritos de mulheres cristãs
viúvas de sexo afinal
Viúvas montando andaimes na cintura dos amantes
a criança órfã de leite
o jovem com a licenciatura no sofá do abandono
e as incendiadas prostitutas a queimarem de prazerEX as ruas do PAÍS
Este poema não fala política e tem a idade
da minha solidão
Modelo de educação do que não posso escrever
Por isso morro quando escrevo e desfila em mim a covardia
dos escritores com medo de (d)escreverem o nó da gravata
que sufoca o pescoço da pátria
Litera atura os mundos
os mundos
que suponho
que penso
que sonho
que perspectivo nos roídos da caneta
O próximo verso será um hipérbato
Remédios de loucuras que acarreto
no bolso da criação
Hoje
enquanto expulso-me do morno ventre de MARIA
indefinidos dedos nas assembleias da vida pintam com o indicador
da (in)certeza a cor que qual juiz ditará a sentença que guiará
CABINDA – Praia do Buco Maze – 23 de Agosto de 2022
os estômagos