atravessa a corrente eléctrica os fios metálicos
perfilada engenharia férrea
mirando cadeias montanhosas
a serpente azul parada na tela do céu
o tempo refrigerando o poema
ou divina poesia no fogareiro da solidão
a queimar aquém mar
como gelo no frigorífico
há mais lógica no agris-surrealismo quando
bandeiras partidárias em cubatas de lodo
amareladas plantações de milhos devoradas por pragas
panfletos do amor à pobreza
meu Deus
como nomear a imponente montanha verde
enchendo-me os olhos de pássaro-flores
é beco vegetal a estrada
o mecânico discurso do motor protesta a longa quilometragem
e é tudo Ntandunzinze
as matas atravessadas por riachos
(um pouco mais baixas)
sol laranja é lua digital no céu de Photoshop
uma população de girassol alegre
caminhões avariados entupidos com areias do tempo
torres telefónicas desafiadas pelo inerte voo da gaivota
mares de algodão com submersas árvores
coro de cegonhas terrestres
quais maestros de orquestra britânica
na margem do rio de alcatrão
ao longe a população campestre se dilui onde o céu cai
e repousam limitados olhos sobre as coisas tangíveis
para além do olhar tudo é metafísico
O TEMPO NO ALCATRÃO
indiscritível marulhar das ondas
heterogéneo : nos hemisférios
no sul, a caneta: condutor quântico
as ideais irrompendo o tubo entupido de azul
o bico da bic a boca de um míssil intergaláctico
porque a poesia não vem de nenhum lugar
senão de todos: flui a vital energia e o corpo se deteriora
no norte, a criação: a crença do corpo como algo necessário
útil, indispensável, sublime, divino
esse dispensável corpo? vaso onde se dispersa energia
enfim: 100% da actividade cerebral
energia contida canalizada em papel
sucedem infinitas ondas
aqui cinzento
lá o lilás
cai o céu
no abismo do horizonte
nascem-me pelos no púbis
quanto de verde capim nas matas do zango
preciso custurar a alma para não compreender a miséria
POESIA DO NADA
altiva deixas cair o corpo
contigo o provérbio do atlântico
no luando das constelações
o idioma de uma noite estrelada
uma lua cheia de fuba de bombó
vês? este atado de bordões é sona
fios de bambu: história trançada com bordões
na subterrânea fenda do oceano a cabeça
espectral combustão aquática de peixes
em águas extintas ondulam os idealistas
filosofia vegetal na carnificina da mátria
com varas de multiplicar resistências
remas contra a corrente da subnutrição
por cima ébrio o voo em alvoroço
a inerte sombra do tempo: camaleónica terra da gente
leio na presente página um tratado filossombrio
onde futuro é carroça e o passado cavalo
“sorte de uns é azar de outros”