Todo o Movimento Literário tem um expoente, uma identidade, uma ideologia e acima de tudo uma poética.
A Literatura tem influenciado os membros da sociedade angolana no modo de pensar e agir nos mais variados sectores da vida. Há um tempo para cá, quem fizesse literatura era visto como um aventureiro e se fosse um movimento literário ter-se-ia ligado a um partido político ou uma entidade de renome para facilitar a divulgação dos seus textos e membros. Assistimos assim uma literatura forjada, ou seja, uma literatura comprada e feita a capricho do senhorio. A literatura dever-se-ia despedir das politiquices, pois, no meu entender, é uma arte pura e única.
É nesta senda que nos propusemos falar do Movimento Literário Litteragris que surgiu em 2015. Este ano lançará uma colectânea de textos denominada TUNDA VALA.
A palavra ‘‘Movimento’’, do latim movimentum, significa deslocação, transformação social e evolução de ideias. Quer dizer que, todo movimento tem por finalidade transformar a sociedade. Carlos Reis, na sua obra ‘‘O conhecimento da Literatura’’, refere-se ao termo ‘‘Movimento’’ como sinónimo de corrente, ou de período, ou ainda de escola. A partir da conceptualização de Reis, pode-se afirmar que todo movimento quer literário ou não constitui uma escola com sua filosofia e doutrina.
Simbad (2010) afirma que, “como sinónimo de período, a ideia de Movimento Literário está associada a todo um conjunto de factos literários ininterruptos que provocam alterações de vária ordem no sistema semiótico literário”. Ele vai mais longe dizendo: “como corrente de pensamento, um Movimento Literário é uma associação formada por autores mais ou menos da mesma época que, compartilhando analogamente o mesmo conceito de humanidade e de arte, estabelecem uma ideo-estética comum”.
Percebemos que identidade, do latim identitas, é um conjunto das características e dos traços próprios de um indivíduo ou de uma comunidade. Esses traços caracterizam o sujeito ou a colectividade perante os demais. Assim sendo, só se torna um movimento Literário como tal se apresentar características peculiares que o diferem dos outros.
[1] Licenciado em Ensino da Língua Portuguesa
Doron e Parot (2001) definem a identidade como sendo o carácter do que é mesmo ou único, embora podendo ser percebido, representado ou denominado de diferentes maneiras (…), a identidade social resulta de um processo de atribuição, de intervenção e posicionamento, meio ambiente; exprime-se através da participação em grupo ou em Instituições.
Se Litteragris tem uma poética própria como demonstram os artigos publicados, então, diremos que é um movimento epicentro. Do rigor, da espontaneidade e audácia, o movimento surge com uma ideo-estética invejável sustentada pela corrente literária Surrealismo. Portanto, Litteragris é um dos poucos movimentos literários angolano pós-independência com uma poética definida.
O Movimento Litteragris (ex. Movimento Literário Vianense) nasce em 2010 para dar voz aos poetas Vianenses. A retórica dos seus manifestos começa a atravessar fronteiras e conquista jovens de outras circunscrições. É o primeiro Movimento Juvenil a definir uma poética comum, consubstanciada na fusão de escolas literárias angolanas com o surrealismo, concretizado através de uma linguagem algo simbólica. Publicará brevemente a obra ‘‘Em Cada Sílaba uma Cicatriz’’ de Mussungo Moko e um artigo literário, intitulado ‘‘Agris Magazine’’; seguidamente a antologia poética ‘‘Ish, Versos da terra’’ e ‘‘Lunaticus, O Cidadão da Lua’’ de Ybynda Kayambu ainda no decurso deste ano. O movimento procura pintar uma proposta estética diferente no quadro da literatura angolana. Não obstante houver diferenças em termos de poéticas e organização, estes movimentos juvenis têm um vector comum: a Declamação. (Litteragris)
Bibliografia
Doron, R. & Parot, Fr.(2001), Dicionário de Psicologia, Editora Climepsi, Lisboa.
Simbad (2010), H. Dos Estudos Literários à Literatura Angolana Contemporânea, in prelo.