Platão, roído por absurdos ideais políticos, escorraça os poetas para o derradeiro lugar do mundo! “que os miseráveis poetas, votados ao auto-abandono, despidos de ra cio cí nio ou com esta casca de lanterna de ilusão humana, rácio-cínio, vão sujar a límpida piscina da pólis, defecando nela”, assim dizia o filósofo das ideias, enquanto Aristóteles, qual Cris Salvador do mundo, ou um precoce esperma riscando no chapéu das nuvens, ou ainda como um óvulo não fecundado ao longo da sua peregrinação à muxima do útero. E ele também, Aristóteles, esfregado de nervo e razão, apesar de estar com as fezes do medo nas calças, defende os “puetas”, que nem um Enrico Ferri, que busca o fogo e o ferro da palavra no inferno para, em tribu-nal, ficar nas costas dos seus clientes. Pia ou livremente disto, Aristóteles não faz frente ao seu mestre, medo ou quê? Mas então, o quê é poesia? É rabisco ou “rabu-sco” sobre o papel?
“Poesia é poesia”, esfregam alguns, logo, logo, na minha mascarada cara. Nesse desaguar de pá lavra, poesia confronta-se com masturbada dual-idade, onde uma face está voltada para afiada “techniques”, entenda-se férreas técnicas, que se assemelham a um aguado e aguçado prepúcio circuncidado sem anestesia… Coitada da “puesia!”
A outra face, virada, sem cortina, para mil faces, diz: “eu sou um em muitos, pena é não me entenderem e me jogarem no lixo dos “meus pensamentos, dotando-me de 69 faces”. Eu assim sou… Desdita! Desfeita; desferida; ferida; magoada, mal-entendida; incompreendida e esmagada pelos dentes dos textos nervosos, fumados de razão lógico-matemática, conseguidos graças a reprodução duma realidade amarga, fria, nua e crua, baseada num realismo que fere os olhos de quem me leva com seriedade. Mas, seriedade… É isso? Alguém aguçou bem os tímpanos para ouvir este disparate? Seriedade na poesia? Não será a poesia arte para os loucos? E não são os poetas abastecidos pela matéria subsidiária da loucura? Poesia é arte de contemplar o além invisível em si mesmo! Ver não é ver nem ver! Nem mesmo olhar tem lugar de cabeceira aqui! É só contemplar, não com os tubos olhos de ver, mas contemplar a divina luz. Ver só possibilita atirar os olhos para as enfadonhas letras, signos repletos de convenções e russos formalismos. O poeta, querendo contemplar a luz da verdade para depois trazer a poesia à superfície dágua, é tido por ocioso, representante do Hades, com Diabo no corpo. Ou ninguém aguenta o fogo da fala dum poeta? Oh, pobre poeta, desvenda-te! A tua glória não se resume em grãos de aplausos, nem num desfile de carnaval de cores várias, como declamação, desfile de moda… Tens lugar! O teu reino será desflorestado quando descortinares o grande reino que há em ti. Aí sim… Estarás no útero da terra, na harmonia com o Cosmos… Aí sim… Encontrar-te-ás com um superintendente deus, de palha, mastigando charuto dum reino que não é dele! Mas, ainda assim, o quê é poesia? Poesia não é explosão de férreas palavras que bombardeiam ouvidos ou olhos. Poesia é um trabalho de boi leitor, único, o único que poderá passar na nádega dàgulha, pois, primeiro buscou o reino da leitura. Depois, o resto sobrepor-se-lhe-ão. Poesia é escolha. Não escola! Olhem as prisões universitárias… Verdadeiras casas penitenciárias para os forjadores de ideias e palavras bem filtradas! Olhem os doutores, de gravatas enforcadas; perfumados e esgotados numa única leitura de “Ensaboado & Enxaguado”. Será que esses doutos sabem o quê é trocar uma noite por uma saborosa leitura. Eh… Esse rabo de conversa está a fugir muito! Vamos lá pelos trilhos da poesia, pá! Mas, ainda assim, o quê é poesia? Poesia é loucura! E o poeta? Um louco!
Arte que é arte é insuficiente para emanar só do coeficiente consciente. Outrossim, ninguém será poeta se não esgazear os gaseificados gases dos olhos. Para se escrever poesia, é preciso espremer os olhos no tanque dos livros. Depois, amassá-los muito bem com escova de ferro. A seguir, passar a leitura e a escrita a ferro e fogo, só assim trazê-la ao veredicto do público leitor.
No sentido de insuficiência, poesia é tudo ou nada! Nada ou tudo. Tudonada. Ela denuncia as mazelas do seu autor. Mas é mesmo má-zela ou texto não bem conseguido? A poesia desvenda a nudez e a vergonha do arco da existência e desfere o tempo. Por isso, não será eterno quem não usar e abusar da fonte divina, a inconsciência, a seiva da poesia, para inverter o convencional ordem directa das palavras gramaticalmente postas ao forno. Anáforas devem ser esquecidas, uma vez que correspondem à própria vergonha dos seus produtores, pobres no território vocabular e usam-nas como muletas, despindo a vergonha dos híper-sentimentos, doença doentia, própria das dogmáticas instituições que nos alimentam expectativas elípticas, reticentes, consubstanciada na cega prostração dum inexistente ente que se adula, qual corvo feito parvo! A poesia quer ver! Não é fraqueza! É fortaleza! Realeza!
Poesia é segurar em invisíveis palavras, quebrá-las: Luanda, Lu, anda! Palavra, pá, lavra. Reino, rei nu. Mas não só, é preciso o banho-maria duma musa que excita o poeta com mel de papel.
Na velhaca Grécia, os festivais dos sexos eram consumidos em palácios, nos comícios, Fruto da sexu-al-idade, no pico do Evereste, mas, no mar da poesia, nada permanente é! Mas aqui, a orgia é poética! Textos putrefeitos amarelam nos braços da gaveta. Poesia assume-te! Em outra instância, estàrte emana duma chuva divina, o álcool dos pequenos deuses! De seguida, vem o forno das palavras afiadas com bons anacolutos, e doseada de insurreições às gramáticas, por isso, orgia poética? Para ser esquecida! Assim de mal conseguida, uma obra passará de péssima para o paraíso da graça, sem festejos em feiras públicas ou injustas taças, mas os textos, por si só, agradecerão.