22Abr

atravessa a corrente eléctrica os fios metálicos

perfilada engenharia férrea

mirando cadeias montanhosas

 

a serpente azul parada na tela do céu

o tempo refrigerando o poema

ou divina poesia no fogareiro da solidão

a queimar aquém mar

como gelo no frigorífico

 

há mais lógica no agris-surrealismo quando

bandeiras partidárias em cubatas de lodo

amareladas plantações de milhos devoradas por pragas

panfletos do amor à pobreza

 

meu Deus

como nomear a imponente montanha verde

enchendo-me os olhos de pássaro-flores

 

é beco vegetal a estrada

o mecânico discurso do motor protesta a longa quilometragem

e é tudo Ntandunzinze

as matas atravessadas por riachos

(um pouco mais baixas)

sol laranja é lua digital no céu de Photoshop

uma população de girassol alegre

 

caminhões avariados entupidos com areias do tempo

torres telefónicas desafiadas pelo inerte voo da gaivota

mares de algodão com submersas árvores

coro de cegonhas terrestres

quais maestros de orquestra britânica

na margem do rio de alcatrão

 

ao longe a população campestre se dilui onde o céu cai

e repousam limitados olhos sobre as coisas tangíveis

para além do olhar tudo é metafísico

O TEMPO NO ALCATRÃO

indiscritível marulhar das ondas

heterogéneo : nos hemisférios

 

no sul, a caneta: condutor quântico

as ideais irrompendo o tubo entupido de azul

o bico da bic a boca de um míssil intergaláctico

porque a poesia não vem de nenhum lugar

senão de todos: flui a vital energia  e o corpo se deteriora

 

no norte, a criação: a crença do corpo como algo necessário

útil, indispensável, sublime, divino

esse dispensável corpo? vaso onde se dispersa energia

 

enfim: 100% da actividade cerebral

energia contida canalizada em papel

 

sucedem infinitas ondas

aqui cinzento

lá  o lilás

cai o céu

no abismo do horizonte

 

nascem-me pelos no púbis

quanto de verde capim nas matas do zango

preciso custurar a alma para não compreender a miséria

POESIA DO NADA

altiva deixas cair o corpo

contigo o provérbio do atlântico
no luando das constelações
o idioma de uma  noite estrelada
uma lua cheia de fuba de bombó

vês? este atado de bordões é sona
fios de bambu: história trançada com bordões

na subterrânea fenda do oceano a cabeça
espectral combustão aquática de peixes
em águas extintas ondulam os idealistas
filosofia vegetal na carnificina da mátria

com varas de multiplicar resistências
remas contra a corrente da subnutrição
por cima ébrio o voo em alvoroço
a inerte sombra do tempo: camaleónica terra da gente
leio na presente página um tratado filossombrio
onde futuro é carroça e o passado cavalo
“sorte de uns é azar de outros”

DEPOIS DO MAR, O MERGULHO CULTURAL
Atalhos:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This field is required.

This field is required.