24Abr
Resumo

A língua Kimbundu tem mantido uma influência no Português falado em Angola dando, desta forma, uma marca típica Angolana. Esta influência deve-se pelo contacto das duas línguas no território angolano. Pois, para a realidade angolana, há falantes que têm a língua Kimbundu como a língua primeira e outros como a língua segunda e o mesmo acontecem com a língua portuguesa, fruto disso, alguns falantes trazem a estrutura do Kimbundu no português falado em Angola.

Palavras-chave: influência, Kimbundu, Português, prefixo nominal

Introdução

O contacto entre povos e suas línguas é um processo inevitável na realidade humana; ocorre sempre numa situação em que uma sociedade ou um indivíduo utiliza consoante a circunstância do processo migratório das pessoas. Assim, na realidade africana o contacto entre os dois povos começou propriamente no século XV, com a chegada de Diogo Cão e a sua tripulação a foz do rio Zaire “Nzadi”.

Considerar que, no caso do contacto existente entre o português e as línguas nacionais de Angola, o mesmo é permanente, tendo provocado algumas mudanças assinaláveis nalguns paradigmas gramaticais do Português, facto que conduziu ao ponto de se ter uma feição nitidamente angolana, sinal mais do que evidente da mudança linguística ou variação, fruto deste contacto.

Considerando o processo colonial em Angola, o português tornou-se a língua oficial da actual República de Angola, como se pode conferir na Constituição da República de Angola no seu artigo 19º na alinha nº 1 quando afirma que “a língua oficial da Republica de Angola é o Português”.

  1. O contacto da língua Kimbundu com português

O contacto do Kimbundu com o Português ou vice-versa fez com que surgisse vários fenómenos linguísticos e transformação na fala de muitos locutores da língua Kimbundu e da língua portuguesa.

O Kimbundu é uma língua de Angola falada pelo grupo étnico-linguístico Ambundu. Os Ambundu são oriundos dos bantu e, por sua vez, os bantu são oriundos dos proto-bantu. Assim, Os falantes desta língua são chamados de ambundu (Pl), (Sg, mumbundu).

No território angolano, os Ambundu entraram pela parte norte e fixaram-se nas províncias de Malanje, Kwanza Norte, Luwanda, Bengu e o norte do Kwanza Sul como se pode conferir em Mingas (2000). Assim, segundo Fernandes e Zavoni (2002:43), “O grupo vive numa grande extensão do território nacional, que se estende entre o mar e o rio Kwangu ultrapassando o curso deste para leste. O mesmo seguiu para o sul abrangendo o baixo e o médio Kwanza”.

De acordo com os dados apresentados pelo CENSO realizado em 2014, podemos constatar os dados actualizados sobre o total de falantes das várias línguas de Angola, o caso específico de Kimbundu que apresenta uma percentagem de 7,82%, sendo considerada como a segunda língua mais falada em Angola, depois do Umbundu.

Segundo Fernandes e Zavoni (2002:46), esta língua faz fronteia com as seguintes línguas: ao norte o Kikongo, ao sul Umbundu e este o Cokwe, partilhando desta forma a zona (H), com a língua Kikongo. Segundo a classificação de Malcolm Guthrie apud SANTIAGO (2013), coloca-se a língua Kimbundu na zona H20. Portanto, a língua Kimbundu, em Angola, é a língua primeira e segunda de muitos falantes.

O prtuguês em Angola assume-se como a língua oficial, para todos os angolanos, e língua primeira para um grupo de angolanos, pois, segundo alguns estudos, afirma-se que o português, até ao presente momento, não é língua de primeiro contacto de alguns falantes.  Para Galisson e Coste (1983:442), “a língua primeira é assim chamada porque é aprendida como primeiro instrumento de comunicação, desde a mais tenra idade e é utilizada no país de origem do sujeito falante”. Apegamdo-se na ideia destes autores, é possivel concordarmos com o que os pesquisadores afirmam, pois, em muitos casos, são as línguas nacionais a sumirem o papel de língua primeira.

Considerando os resultados preliminares do Censo 2014, mostram que a população residente em Angola era de 24,3 milhões de habitantes, sendo 11,8 milhões do sexo masculino (48%) e 12,5 milhões do sexo feminino (52%). Considerando os resultados acima presentados a que dizer que para as línguas que se falam em Angola, o português ocupa um número considerado de 16.090.741, tendo como percentagem de 71,15%. Assim, observando estes dados e comparando com os dados da língua Kimbundu, podemos concluir que o português é hoje língua primeira de muitos angolanos.

Os países colonizados pelos portugueses, inicialmente, não tinham o português como língua materna, mas estrangeira como afirma Quivuna (2014:40). Deste modo, o português era língua do domínio dos portugueses e duma minoria de habitantes autóctones que habitavam nas cidades, no caso de Luanda, essa ideia é partilhada por Mingas (2000), pois depois das independências e do processo de escolarização, a língua portuguesa ganhou um estatuto de língua oficial e de escolarização fazendo com que muitos autóctones adquirissem essa língua como primeira em função do seu desenvolvimento linguístico.

  1. A caracterização da estrutura da língua Kimbundu

Nas línguas bantu e em particular o Kimbundu, as classes de prefixos constituem a categoria básica na qual as formas se encontram flexionadas. Numa língua bantu, cada substantivo situa-se dentro de uma série juntamente com os outros substantivos que compartilham o mesmo classificador que é um prefixo nominal (PN) que regem a concordância das palavras dependentes (adjetivos, pronomes, verbos) através da repetição do classificador sob a forma de prefixos adjetivais (PA), pronominais (PP) ou infixos (IN). As classes agrupam-se duas a duas para expressar o singular e o plural sem esquecer a existência de outros sistemas (substantivos monoclássicos e pluriclássicos, etc), ou seja, os prefixos nominais se repetem no decorrer de toda a frase para assim fazer a concordância com as outras palavras relacionadas a eles. Quanto a número das classes, a língua Kimbundu tem 18 classes, na qual 15 são prefixos nominais (PN) e outros 3 são locativos.

Estes prefixos funcionam para indicar o género, o número e até mesmo o grau aumentativo e diminutivo dos substantivos. Um prefixo nominal é catalisador de todos os acordos e é presente em todas as circunstâncias. Os prefixos nominais regem o funcionamento tanto para o singular quanto para o plural e o sentido de concordância em todas as línguas Bantu.

Classes nominais da língua Kimbundu
Classes PN PP PA PV
1 mu- mu- mu- mu-
2 a- a- a- a-
3 mu- mu- mu- mu-
4 mi- mi- mi- mi-
5 di- di- di- di-
6 ma- ma- ma- ma-
7 ki- ki- ki- ki-
8 i- i- i- i-
9 i-, Ø i- i- i-
10 ji- ji- ji- ji-
11 lu- lu- lu- lu-
12 ka- ka- ka- ka-
13 tu- tu- tu- tu-
14 u- u- u- u-
15 ku- ku- ku- ku-
16 bhu-
17 ku-
18 mu-

Sistema foi fundado na repartição de nomes em classes na base de emparelhamento singular/plural. Esse emparelhamento que determina o número atribuido a cada classe, atribui-se geralmente os números ímpares as classes do singular e os números pares as classes do plural. Cada classe plural recebe o número par, segundo o número da classe singular a qual ela responde. Mas é preciso prestar bastante atenção à classe 14 que forma o seu plural com a classe 2 ou 6 e classe 15 que representa o prefixo verbal (PV) e quando se refere ao sujeito, cria o plural com a classe 6.

Classe 1 (singular) é representada pelo prefixo -mu, este serve para referir-se aos seres humanos. Como exemplo temos: mutu (pessoa), muhatu (mulher), muloji (feiticeiro). Quanto ao plural, a classe 1 faz com a classe 2.

Classe 2 (plural) é representada pelo prefixo a-, como exemplos temos: atu (pessoas), ahatu (mulheres), aloji (feiticeiros).

Classe 3 (singular) é representada pelo prefixo mu-, também serve para indica nomes de pessoas, partes do corpo humano e animal, plantas, criaturas místicas, astros e vários objectos. Para exemplificar: muzangala (jovem, rapaz), muxitu (selva), mukixi (ser místico), mwanya (sol), muzumbu (lábio), A classe 3 faz o plural com a classe 4.

Classe 4 (plural) é representada pelo prefixo m-i. Exemplos: mizangala (jovens, rapazes), mixitu (selvas), mikixi (seres místicos).

Classe 5 (singular) é representada pelo prefixo di-, também serve para indicar alguns nomes de humanos e seres místicos, nomes qualquer, vários objectos, astros, animais e partes do corpo. Exemplos: diyala (homem, rapaz), dikamba (amigo), dikota (mais velho).

Classe 6 (plural) é representada pelo prefixo ma-. Exemplos: mayala (homens, rapazes), makamba (amigos), makota (mais velhos).

Classe 7 (singular) é representada pelo prefixo Ki-, serve para indicar nomes de pessoas e lugares, substantivos abstratos, partes do corpo, objectos e serve também para fazer o aumentativo dos nomes. Temos como exemplo: kilumba (moça, rapariga), kitanda (praça ou mercado informal), Kitembo (vento), Kinama (perna), Kyala (unha). A classe 7 faz o seu plural com a classe 8.

Classe 8 (Plural) é representada pelo prefixo i-. Exemplos: ilumba (moças, raparigas), itanda (praças), inama (pernas), isuxi (ombros), iyala (unhas).

Classe 9 (singular) é representada pelo prefixo i- ou pelo morfema zero (Ø), na ausência do prefixo da palavra. Serve para indicar nomes divinos, de animais e abstratos, partes do corpo, objectos e astros. Exemplos: Nzambi (Deus), Nzumbi (espirito), sanji (galinha). O seu plural é feito com a classe 10.

Classe 10 (Plural) é representada pelo prefixo Ji-. Exemplo: Jinzambi (deuses), jinzumbi (espíritos), jisanji (galinhas).

Classe 11 (singular) é representada pelo prefixo lu-. Serve para indicar partes do corpo, objectos e astros. Exemplos: lukwaku (braço), lungoji (corda pequena). A classe 11 o seu plural é feito com as classes 6. Exemplo: makwaku (braços).

Classe 12 (singular) é representada pelo prefixo ka-. Serve para indicar nomes diversos e para formar o diminutivo dos nomes e também a realização da negação. Exemplo: Kalunga (mar), Kadikalu (carrito). Para fazer o seu plural, a casse 12 junta-se a classe 13. Por exemplo, tulunga (mares).

Classe 14 (singular) é representada pelo prefixo u-. Serve para indicar substantivos abstratos e outros, e objectos. Exemplos: uta (arma). A classe 14, também é isolada, não tem par como as outras classes, por esta razão, o seu plural é feito com a classe 6.

Classe 15, representada pelo prefixo Ku-, serve para indicar o infinitivo dos verbos. Por exemplo: Kutanga (ler), Kudya (comer), kuzeka (dormir). Mas esta classe pode também servir-se de verbo-nominal, quando este faz o papel de nome. Quando isso acontce, faz-se o plural coma classe 6. Por exemplo: Kudya (comida); madya (comidas).

Classe 16 (locativa) representada pelo prefixo bhu-, é uma classe. Serve para indica lugar externo, proximidade ou distancia, encima de algo e também direção. Exemplos: bhumwanya (no sol), bhudilonga (no prato).

Classe 17 (locativa) é representada pelo prefixo ku-. Serve para indica lugar externo, proximidade ou distancia, encima de algo e direção. Exemplos: Kumabya (na lavra), kulukwaku (no braço).

Calasse 18 (locativa) é representada pelo prefixo mu-. Serve para indicar lugar interno. Exemplos: mudikalo (dentro do carro), monzo (dentro de casa), mudyulu (no céu).

 

 

3. Interferência na pluralização

A língua portuguesa, no que toca à pluralização, consiste no processo de sufixação que, por norma, faz-se o acrescimo da letra (s) no final de uma palavra na sua forma singular, com excepção dos nomes invariáveis em números.

O Kimbundu é uma língua prefixial em que os nones se agrupam num certo número de classes que se colocam no seu princípio para dar-lhes a noção de Singular ou Plural. Para a língua Kimbundu, os prefixos nominais regem o funcionamento tanto para o singular, quanto para o plural e o sentido de concordância em todas as frases. O plural, para a língua Kimbundu, faz-se no princípio do nome num processo de prefixação, ao passo que para a língua portuguesa dá-se o contrário, faz-se no fim dos nomes (sufixação). Dando está oposição aos falantes do Kimbundu, que também são falantes da língua portuguesa como língua segunda, tendem à alteração da norma da língua portuguesa, para um português com características da língua Kimbundu. Como exemplos, apresentamos várias frases selecionadas do português que se tem falado por alguns indivíduos em Angola.

1 – Português Europeu: É a dona dos cabritos;

Português falando em Angola: É a dona dos cabrito;

 

2 – Português Europeu: temos muitas casas;

Português falado em Angola: temos muitas casa;

 

3 – Português europeu: tenho três pães;

Português falado em Angola: tenho três pão;

É notória a alteração da norma através do posicionamento da letra (s) em vez de colocar-se no fim da palavra, ela é sumida na flexão. Estes casos denotam uma clara interferência da língua Kimbundu, pois, nos exemplos 1, 2 e 3 apresentam, claramente, as características da norma do kimbundu no português falado em Angola;

Esses desvios da norma do plural da língua portuguesa por alguns falantes do português em Angola é fruto de uma fiel tradução da língua Kimbundu para a língua portuguesa, pois, para o Kimbundu, a pluralização, como já dissemos acima, é feita por um processo de prefixação e isso influencia naquilo que é o falar do português em Angola, como podemos ilustrar nos exemplos abaixo:

  • Muhatu wami (minha mulher)

Ahatu ami (minhas mulheres)

O (mu-) é um prefixo nominal de classe 1 indica o singular e o (hatu) é o base nominal. Para realizar o plural junta-se o prefixo nominal de classe 2 (a-) à base nominal (hatu) logo temos o Plural na língua Kimbundu. Para clarificar, vamos apresentar a segmentação morfológica das frases acima:

Ex: muhatu wami

Mu – hatu + u – a – ami

Pn1[1] – Bn[2] + pp1[3] – vc[4] – B.poss[5]

 

Ex: Ahatu ami

A – hatu + a – Ø – ami

Pn2  – Bn + pp2  – vc  – B.poss

 

4. Influência quanto ao género

No que tange à concordância do género, a língua Kimbundu apresenta uma divergência com a língua portuguesa. Por serem línguas de famílias diferentes, apresentam, claro, estruturas diferentes, tal como já mencionamos a partir dos pontos acima. Por exemplo, as expressões Mona (singular) e Ana (plural) da língua Kimbundu têm os significados de filho/a ou filhos/as.

Alguns falantes do português em Angola têm feito passar essa tradução literal ao português com as seguintes expressões: filho de homem e filha de mulher em vez de filho ou filha, em casos para elucidar de quem se trata, ou seja, o sexo do referido. Para a língua Kimbundu, para a distinção do género, acrescentam-se os substantivos Diyala (homem) e Muhatu (mulher) aos substantivos. Mas que não se adequa ao português, porque sendo uma língua não Bantu e que possui regras diferentes, mas que tem acontecido. Em seguida, temos alguns exemplos em Kimbundu e Português:

  1. Mona diyala (filho/a + homem = filho de homem)

mona wa muhatu ( filho/a + mulher = filha de mulher)

Para melhor compreensão da sua estrutura morfológica, apresentaremos abaixo a sua análise:

Ex: mona wa dyala

Mu – ana + u – a + di – yala (filho de homem)

Pn1 – Bn + Pp – Vc + Pn5 – Bn

 

Ex: mona wa muhatu (filha de mulher)

Mu – ana + u – a + mu – hatu

Pn1 – Bn + Pp – Vc + Pn5 – Bn

Estes exemplos ajudam-nos a perceber claramente algumas influências que se registam no português falado em Angola. O Kimbundu, ao contrário do português, as distinções sexuais não são importantes, pois em nenhuma classe nomial desta língua apresenta prefixos nominais destinados para a distinção de sexo masculino ou feminino. Desta forma, os falantes podem apresentar uma incapacidade de estabelecer na língua portuguesa a diferença entre o acordo do determinante com um nome do género masculino ou feminino.

Geralmente, para a língua Kimbundu, o substantivo, por si só, naõ define o genéro, é necessário a que se unem outros substantivos como “homem” ou “mulher” para indicar o género e isto é notável quando os falantes usam o portuuês para comunicarem-se.

[1] Prefixo nominal

[2] Base nominal

[3] Prefixo pronominal

[4] Vogal conectiva

[5] Base possessiva

5. Influência quanto ao diminutivo e o aumentativo das palavras

A forma muito comum, em língua portuguesa, para o caso do diminutivo é o sufixo “inho” e para o aumentativo é o sufixo “ão” quando se pretende diminuir ou aumentar o grau do substantivo.  Para a língua Kimbundu, recorre-se à ao prefixo nominal da classe 12 ka para diminuir o grau do substantivo e ao prefixo nomial da classe 7 ki para aumentar o grau do substantivo. Esta característica da língua Kimbundu está grandemente marcada na fala do português falado em Angola apontando, assim, influências de ordem lexical, como nos ilustram os exemplos abaixo:

  1. Não estou bem com esse kalugar.
  2. Não estou bem com esse lugarzinho.

 

  1. Esse kapão não me vai chegar.

Esse pãozinho não me vai chegar.

As frases identificam o linguajar observado nos falantes, denunciando uma situação de influência do Kimbundu na formação do diminutivo do português falado em Angola. Essa influência deu-se a partir de uma adaptação da estrutura do Kimbundu para o português.  Para clarificar, vamos apresentar um exemplo em Kimbundu com a sua respectiva análise morfológica.

Kamuhatu (mulherzinha)

Ka – mu – hatu

Pn12 + Pn1 + Bn

 

Neste exemplo apresentado acima, percebemos que o prefixo nominal ka- une-se ao substantivo muhatu para diminuir o seu grau. O mesmo processo é notável quando os falantes usam o português para comunicarem-se, levam as marcas da estrutura do Kimbundu para o português.

Quanto ao aumentativo, ao contrário da língua portuguesa, a língua Kimbundu observa-se no posicionamento do prefixo nominal ki- antes dos substantivos da classe 7. A presença do Ki- como aumentativo é notável nos falantes do português falado em Angola como podemos ver nos exemplos ilustrados abaixo:

  1. Esse kicarro é do meu tio.

Esse carrão é do meu tio.

 

  1. Ele comprou um kisapato bem bonito.

Ele comprou um sapatão bem bonito.

Tal como no diminutivo, no aumentativo as frases identificam o linguajar observado nos falantes, denunciando uma situação de influência do Kimbundu na formação do aumentativo do português falado em Angola. Essa influência deu-se a partir de uma adaptação da estrutura do Kimbundu para o português.  Para clarificar, vamos apresentar um exemplo em Kimbundu com a sua respectiva análise morfológica.

Kidikalu (carrão)

Ki – di – kalu

Pn7 – Pn5 – Bn

No exemplo apresentado acima, percebemos que o prefixo nominal ki- une-se ao substantivo dikalu para aumentar o seu grau. O mesmo processo é notável quando os falantes usam o português para comunicarem-se, levam as marcas da estrutura do Kimbundu para o português.

 

6. Considerações finais

O contacto entre línguas é um processo inevitável entre os homens e isto é feito por diversos factores, como factores sociais, políticos, económicos ou mesmo cultural. Para a realidade de Angola, um país multilingue, haverá sempre o contacto entre as línguas, entre o português com a língua Kimbundu ou com as demais línguas Bantu de Angola.

O português falado em Angola vai assumindo marcas próprias e diferenciando-se cada vez mais do português europeu devido ao contacto permanente que tem com o Kimbundu e com as demais línguas Bantu de Angola. Por enquanto, como se percebe, estas particularidaddes são, apenas, visiveis na fala e não na grafia. A grafia procura-se ao máximo adequar-se à norma europeia, embora, nalguns casos, verificam-se alguns desvios.

 

Referências bibliográficas

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PETTER, Margarida, Introdução à Linguística Africana. Editora contexto, 2015.

SANTIAGO, Joana de Lima,  Zoonomia Histórico-comparativa Bantu, Revista eletrónica língua viva, 2013 número 5, Site: http://www.revistalinguaviva.unir.br . E-mail: revistalinguaviva@gmail.com

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