26Abr

Tiramos os pés da terra, voamos. Com as letras nos distúrbios das palavras, a vida deu-nos esta arte universal com a qual nos distanciámos dos outros. Descemos pequenos deuses sobre a terra que ousamos designar por Agris-pátria. Encontrámos deuses feitos, com os quais dialogámos em silêncios. Todos os caminhos já pareciam traçados: MINIA, BJL, Ohandanji e Kixímbula (Archote). Embebedamo-nos até nos fartarmos. Então, ou nos perdemos, ou inventamos caminhos sobre os caminhos já trilhados (?). Qual Cristo, ressuscitámos André Breton do seu túmulo de letras e subvertemos, ou trouxemos o super-realismo ou o neo-surrealismo em MASSA, num simbolismo equilibrado – a agris-estética.

Contra a Geração do Conformismo e os seus homos scriptoris do segundo milénio, que não aguentando o peso da herança e da crítica literária da geração de 80, utopicamente, acreditando que não fosse possível subverter o sistema semiótico dominador e consequentemente estabelecer uma nova ordem estética, como se a literatura, esta arte de transfigurações, não fosse um espaço infinito de transgressões; ou sendo mesmo de uma fragilidade criativa, não só emigraram para uma forma de literatura muito delicada e por vezes marginalizada, visto que nem mesmo os teóricos da nossa literatura se ocupam dela nas longas horas vagas, como a infectaram de grandes males. Depois de muitos projectos poéticos mal conseguidos, num repente, eis que começou a surgir muita literatura, ‘‘infantil’’ na múltipla dimensão do termo, na medida em que dentre as obras dignas de serem, emergiram obras que tratavam o tema da Criança numa linguagem e por vezes enredos impróprios. Contra esse arsenal de regras dogmáticas, inibidoras de voos, inimigas da imaginação e consequentemente da criação, a que designam por razão. Contra os actores sociais, escritores e outros rostos bonitos, moralistas, da imprensa cor-de-rosa que nos acusam de perder valores que nunca obtivemos. Não contra moral Cristã, mas contra as pessoas que aspiram a utopia da perfeição e vivem condenando os neutros como se melhores pessoas fossem; contra os líderes religiosos que a dada altura, não só confundem os bolsos dos fiéis, como também fazem carreiras em outras assembleias. Nestes contras e noutros, implícitos, em nossos textos artísticos, por razões plausíveis, sob o manto de uma paisagem irracional, nasce o Movimento Litteragris.

Não recriminamos a nova vaga de poetas que caminha na margem oposta do rio, não os recriminamos por chamarem poesia in strictu sensu a todo um conjunto de contos sem imaginação, não os recriminamos por transformarem o campus literário num círculo de risos, provocado por um humanismo, sub(traído) de lemas utópicos, que os leva a publicar em livros a sua poesia empática de catarse instantânea, não! Até porque merecem o nosso elogio porque, ao contrário dos Conformistas, contestaram e negaram a super-poesia da geração de 80, como aconselham os teóricos que defendem afirmações de gerações em contraposição a geração dominante, mas negar que a linguagem literária é um subsistema da língua natural, na medida em que aquela subverte esta, num magistral processo de recriação linguística, e defenderem uma linguagem direita na esfera da corrente, como proposta literária, não, não, não, não! Subverter uma norma para se plantar o caos e exibirem a sua poesia denotativa? Fiquemos com os neobrigadistas e alguns conformistas, que continuam a proporcionar uma metalinguagem, embora incomparável, idêntica, a da super-geração(?).

Não se trata de culto, nem de respeito exacerbado para que a agris-arte seja legitimada. Trata-se de respeito e de reconhecimento, daquela que uma das grandes propostas estéticas. E como prova de que não há cultos, sem receios, falemos agora da confusão que se faz em torno da poética pré-estabelecida, recomendável e aceitável, consubstanciada na máxima “10%, INSPIRAÇÃO e 90%, TRABALHO”. Eis a grande questão: teremos de ser simbolistas a cultivar textos até exceder o extremo do enigma à luz do dogmatizado? Deste princípio não resultaria um niilismo conceptual de correntes como o Realismo? Então não haveria poesia na Mensagem?! O que é a poesia afinal? Um trabalho exacerbado sobre a linguagem?! Expressão de sentimentos, emoções e pensamentos, através de uma linguagem encantadora? Toda a poesia em que há um trabalho exacerbado sobre a linguagem, ultrapassando o tecto do enigma, anula completamente o efeito catarse no leitor, é vazia. Pois, a poesia é, no nosso entender, o sentimento, a emoção, que se pode depreender duma obra que se autonomiza pelo grau de singularização que o seu autor a confere. Reconhecemos, na devida medida, o relativismo implícito do conceito de hermeticidade; no entanto, reafirmamos, em tom alto, a existência de textos vazios em sentimentos e em emoções, proporcionados por caprichos técnicos dos seus cultores. Que fique bem claro que não somos padrinhos de poéticas mal conseguidas. O que não queremos é que se trace dogmaticamente uma escala de valor de excelência que leva o leitor a afastar-se das livrarias porque, na verdade, “ o autor de um texto literário, mesmo quando escreve sob o domínio de um impulso confessional, ou movido por um anseio de auto-catarse, ou buscando efeitos de auto-remuneração psicológica, não ignora que o seu texto, sob pena de se negar como texto literário, tem de entrar num circuito de comunicação em que a derradeira estância é o leitor ” (Aguiar e Silva). Arte é intuição; a intuição é a soma das experiências despejadas sobre a obra. A poesia pinta-se de mistérios e paradoxos, com a soma de materiais que magicamente transitam do consciente para o subconsciente e deste para o inconsciente, o lugar de origem.

A proposta é a agris-estética ou um neo-surrealismo como paisagem oculista para enxergar o ‘‘invisível’’, ou para desempoeirar olhos, através de um simbolismo (linguagem) equilibrado sob a nossa ideo-estética.

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