O movimento literário Litteragris realiza amanhã, a partir das 10H00, na União dos Escritores Angolanos, o colóquio “Pepetela de Asas Abertas”, que conta com as prelecções de Kaio Carmona, Domingas Monte, Hélder Simbad e Edmira Manuel, sob moderação de Silva Chiti e Destino Ventura. Com apoio da União dos Escritores Angolanos e o Atelier D´artes Lucengomono, Agostinho Gonçalves, actual coordenador geral do Litteragris, confirma a presença de Pepetela no colóquio, que será alvo de uma homenagem.
“O colóquio Pepetela de Asas abertas tem dois objectivos essenciais, sendo o primeiro analisar a produção literária de Pepetela, a partir de um ponto de vista teórico, crítico e historiográfico, ressaltando no fundo os aspectos ideológicos e estéticos presentes na literatura deste autor. O outro grande objectivo é homenagear o próprio Pepetela, na qualidade de um dos grandes prosadores do nosso idioma, por tudo que ele já fez para engrandecer, com o seu talento, o génio criador angolano”, justifica.
Agostinho Gonçalves garante que será um dia de debate e conversas, para depois culminar numa homenagem ao autor que se fará presente, perante uma mistura de convidados, sendo o público-alvo os amantes da literatura de Pepetela, desde escritores, jornalistas, estudantes, críticos literários e editores.
Para si, a obra de Pepetela representa a essência de Angola, por ser uma literatura que valoriza muito o contexto social do país, que é bastante ficcionado por este homem das letras, tanto que muitos estudiosos dizem que se alguém quiser perceber melhor a história de Angola, tanto política ou cultural, tem de ter Pepetela como uma leitura obrigatória.
“Pepetela é muito estudado e lido no estrangeiro. Temos várias editoras aqui em Angola mas nenhuma delas conseguiu até agora os direitos autorias para reeditar as suas obras. Para o lermos, temos de recorrer às obras antigas, editadas pela União dos Escritores ou as obras incluídas na colecção clássicos da literatura angolana. Portanto, essa dificuldade toda no acesso à obra de um escritor angolano da sua craveira nos faz reflectir sobre a importância deste escritor, que acreditamos que não tem sido acarinhado como deve ser”, explica.
Por essa razão, sublinha Agostinho Gonçalves, o Litteragris tomou a iniciativa de realizar um colóquio para homenageá-lo, por toda essa obra tão rica, sendo igualmente uma grande referência do homem angolano. O jovem escritor reconhece que poderiam ter feito mais, porém carecem de apoios para uma vénia à altura deste mestre das letras.
“Uma das formas seria a criação de um Prémio Literário Pepetela, voltado para os prosadores. Seria uma grande forma de homenageá-lo. Acho que o seu legado já está garantido. Pepetela é dos nomes mais sonantes na literatura angolana. é um autor bastante traduzido”, defende.
Agostinho Gonçalves é professor, tradutor, escritor e crítico literário, que actualmente é o coordenador geral do movimento Literagris, uma agremiação de jovens artistas escritores e estudiosos da literatura que foi fundada em 2015 na União dos Escritores Angolanos. Os primeiros contactos com a literatura surge em todas as fases da sua formação, embora seja no ensino médio a etapa em que começa de facto a ler os grandes clássicos da literatura angolana. Mas essa devoção se consolida quando ingressa na então Faculdade de Letras, hoje Faculdade de Humanidades, da Universidade Agostinho Neto. Esse facto contribuiu para que fizesse parte no movimento Litteragris.
“A literatura sempre teve uma função social muito sólida, além da sua função estética, cognitiva e demais. Acho que hoje a sociedade tem deixado para trás o papel do livro. Precisamos melhorar o nosso sistema literário, que precisa de mais editoras para publicar mais autores. Precisamos também ter mais leitores, e isso passa pela implementação da literatura já nas classes de base do sistema de ensino”, salienta.
Pepetela nasceu em Benguela, em 1941. Licenciou-se em Sociologia, em Argel (Argélia), durante o exílio, e foi guerrilheiro do MPLA, político e governante.
Fez o ensino primário na sua cidade natal, partindo depois para o Lubango (Huíla), onde prosseguiu os estudos. Em 1958 foi para Lisboa, ingressando no Instituto Superior Técnico, onde frequentou o curso de Engenharia até 1960.
Pepetela tornou-se militante do MPLA em 1963 e quando abandonou a vida política, optou pela carreira de docente, na Faculdade de Arquitectura de Luanda, onde dá aulas de sociologia.
Prémio Camões 1997, tem publicados entre outros, os livros “As Aventuras de Ngunga” (1973), “Muana Puo” (1978), “Mayombe” (1980), “O Cão e os Caluandas” (1985), “Yaka” (1985), “Lueji” (1989), “Geração da Utopia” (1992), “O Desejo de Kianda” (1995), “Parábola do Cágado Velho” (1997), “A Gloriosa Família” (1997), “A Montanha da Água Lilás” (2000) e “Jaime Bunda, Agente Secreto” (2001) e “Sua Excelência de Corpo Presente” (2018).
Na sua galeria constam ainda os prémios Correntes de Escrita, em 2020, Rosalia de Castro, do Centro PEN Galiza, em 2014, Nacional de Literatura (1981), Nacional de Cultura e Artes (2002), Especial dos Críticos Literários de São Paulo (1993), Internacional da Associação de Escritores Galegos (2007), Prince Claus da Holanda (1993) e Grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Algarve, conferido em 28 de Abril de 2010.