O nosso diálogo visa, em toda a instância, homenagear um dos mais importantes estudiosos do fenómeno literário em Angola (Jorge Macedo), que publicou seu famoso livro em 1986, com o título «Poéticas na Literatura Angolana», do qual se inspira os estudos elementares e/ou fundamentais sobre a iniciativa dos estudos em sede do Círculo dos Estudos Linguísticos e Literários Litteragris, sobre a crítica literária, sobre a antropologia cultural e sobre a filosofia da cultura africana.
Antropólogo:
Faz sentido considerar Jorge Macedo como um antropólogo por essência, na medida em que não só faz um estudo extremamente fundamental para a concepção das relações culturais e humanas entre as sociedades africanas e as europeias de cunho colonial, cumprindo a função de analisar a cultura dos povos numa numa nuance comparativa, tendo tal caracterização como seu princil confirmação o livro “A Dimensão Africana da Cultura Angolana” que se abre com a seguinte proposição:
(a convivência dos angolanos com a cultura luso-europeia deu lugar a um extrato social culturalmente europeizado, mercê da instituição colonial do estatuto de assimilação. Os assimilados eram os africanos que para conquistar o direito à cidadania e suas mordomias, “acesso a cargos públicos auxiliares, eram obrigados a abandonarem usos e costumes de pais e avós”, só depois das independências as populções de assimilados transferiram-se para as administrações nacionais)
Um acérrimo defensor do patriotismo e da identidade cultural angolana e/ou africana, quando nos seus dizeres podemos ver trexos como estas:
(Intelectuais angolanos existem, defensores de ideias exógenas do ego africano dos seus compatriotas. Trata-se de uma mobilização para que todos não se vistam de sentimentos patrióticos, nacionalistas e que não abracem a sua rica história e a sua personalidade africana).
Assim, Jorge Macedo inauga o chamamento de todos os filhos da pátria para o renascimento cultural, na medida em que as sociedades africanas e angola, em particular, sofreu o bastante dos desenraizamentos com as deslocações forçadas que influenciou a perda da identidade africana.
Naturalmente, Jorge Macedo, no âmbito de seus estudos não se reduz à abordagem da literatura e da cultura, assenta também as suas reflecções no campo dos direitos de família, dedicando-se várias vezes e especificamente à discussão sobre o direito costumeiro no âmbito da poligamia, como uma instituição legitimada pelo direito costumeiro, instituto segundo o qual a um homem é permitido ser esposo de várias mulheres; focando aspectos do instituto do indigenato, que instituía as expressões de concubigens, cultura ferozmente reprovada pelos europeus colonizadores e que em África constitui um costume de gema e das raízes da tradição humana.
Segue suas reflecções sobre as comunidades matrilineares, onde o homem tem o direito exclusivo de ter mais do uma esposa e, pelo contrário, nas comunidades matrilineares, a iniciativa poligâmica é das mulheres, estando sob a designação de poliandria.
Filósofo:
Se o filósofo, como impõe Pitágoras, é o amigo do saber, ou amor a sabedoria, Jorge Macedo demonstra pelas suas obras ter sido um verdadeiro amigo da sabedoria, pois, se partindo do pressuposto segundo o qual, a filosofia dá ao homem a coragem de olhar e ver o meio que lhe circunda, então, sua essência é o espelho da literatura angolana.
Jorge Macedo, ainda que o seminário maior diga o contrário, nunca concluiu os seus estudos em filosofia, porque sempre esteve a estudar, a julgar pela magna acta da teoria da literatura, da etnolinguística, da antropológica que acaba por confirmar uma insistente e legítima categoria de um homem que “sempre buscou a verdade e nunca a encontrava, porque sempre a encontrasse, queria saber outra verdade” por essência, tal como Jean Paul Satre em França, Jorge Macedo em Angola, é chamado de “o Mestre Macedo” pelos estudiosos da literatura angolana.
Jorge Macedo assenta o seu pensamento na filosofia do existencialismo, inaugurado pelo Jean Paul Satre, na medida em que defende a liberdade dos homem africano, tal liberdade impregnada nas suas concepções dos povos africanos, nos seus textos de arte demonstra essa tendência do afastamento das formas pré-estabelecidas e mesmo ao chamamento de atenção aos estudiosos a terem sempre em conta do livre arbítrio dos autores. Filosofia do existencialismo é tal segundo a qual o homem quando nasce, nasce como um nada e tudo o que vem a ser, decorre da experiência que colhe do meio que lhe circunda. Que não existe destino pré-estabelecido para a vida humana, que a única coisa que resta ao homem é a sua liberdade.
Abre-nos assim uma veia de inquirições filosóficas que partem da necessidade de cada estudioso dar sentido a sua própria cultura e ao seu seu próprio sentido de ser e não ser.
Teórico Literário:
Entretanto, não se pode falar em estudos literários angolanos sem que se faça uma referência a ele, pois, seus ensinamentos perduram no tempo, tendo inclusive adoptado a importância do axioma sofista segundo o qual tudo muda e nada permanece, quando na sua obra (Poéticas na Literatura Angolana) afirma que (o modernismo de uma época não tarda ser arcaísmo no surgimento das novas tendências).
Deste dizer aprende-se que a literatura é uma realidade mutável, em funçao dos contextos e dos consequentes paradigmas que se impõem no tempo, a partir de um certo momento, qualquer estudioso, dando uma devida interpretação a este pensamento, acaba por entender que é preciso que haja ruptura sobre as formas diversas de se criar as obras e de se fazer a ciência.
Entretanto, Jorge Macedo está na génese de toda uma revolução literária que se verifica neste presente momento, pois, as suas ideias são vanguardistas sobre qualquer tentativa de esvaiar o estético na arte. É sobre a teoria do (Mais Poético e Menos Poético) que assenta a ideia de que Jorge Macedo sempre pretendeu que os autores e seus textos fossem mais coerentes consigo mesmos e que tivessem um verdadeiro engajamento no ofício do dizer poético.
Tão cedo apercebeu-se de que contribuir para os esforços do desenvolvimento da literatura angolana era importante, para a necessidade de exteriorização dos pensamentos e sentimentos do povo angolano, uma vez que, como se tem dito, qualquer literatura nasce da alma de cada povo, portanto, a literatura deve, em, síntese, o desenvolvimento como elemento cultural capaz de impor a descolonização, na medida em que se debate sobre inúmeras propostas de incronização entre a cultura das nações colonizadas e a cultura assimilada por imposição do colonizador.
É dos primeiros estudiosos da literatura angolana, que descreveu aspectos muito importantes sobre a oralidade da literatura angolana, tendo dado esclarecimentos fundamentais sobre as características dos contos, lendas, fábulas, provérbios, advinhas, poesias, canções que se perpetuaram no tempo pela capacidade de assimilação e o poder da tradição oral angolana; uma vez que, como se sabe, a literatura angolana (escrita) surgiu tarde, (séc. XIX), com a publicação do primeiro livro em 1849, da obra Espontaneidade da Minha Alma de José da Silva Maia Ferreira.
Para o Círculo de Estudos Linguísticos e Literários Litteragris, doravante (CE3L), Jorge Macedo contribuiu para o espírito dos seus estudiosos e do reconhecendo da importância da preservação da tradição oral angolana, na medida em que atiça-nos, a partir do ano de dois mil e onze, ausadia de iniciar os estudos sobre as várias figuras que se destacaram neste exercício, tais como Cordeiro da Mata e Óscar Ribas, já que produziram instrumentos para os quais se pode consultar do ponto de vista filológicoas diversa manifestações orais.
Apesar do facto de termos tido apaixonadas lições elementares com Aguiar e Silva, jusante a desconstrução dos conceitos de poética, segundo os quais o termo deriva, por via erudita, do lexema grego poiétike, de um lado, nos remetendo para o lexema literatura enquanto fenómeno artístico, (o conjunto de regras e preceitos que ensinam a fazer poema); e do outro lado, a compreensão da literatura como o estudo da arte que se manifesta através da palavra, ou seja, (o estudo das obras resultante da arte poética) Silva (1990). Além do que se aprende naturalmente com Aristóteles sobre a poética e poesia, Jorge Macedo impõe-nos a assegurar os conceitos segundo os quais deve-se ter em separado a poesia como género de escrita e a poesia como efeito, conceitos que não se podem confundir no exercício da crítica literária.
Se o adjectivo crítico surge em grego (krinõ) e significa ‘julgar, distinguir ou separar’ e se a Crítica Literária é o estudo de um texto literário concreto ou de um determinado conjunto de obras literárias e pode apresentar tanto uma orientção diacrónica, como uma orientação sincrónica, podendo ocupar-se ainda dos aspectos estilísticos ou retóricos, como de aspectos temáticos ou semânticos[1]. Jorge Macedo fez e deve ser considerado um auténtico crítico literário, único na sua época que seria capaz de falar com os textos de forma mais objectiva.
Do Mestre Macedo se pode aprender que sempre que se fala em teoria (em qualquer área do saber) tem-se a ideia de que existe um conjunto de argumentos sobre um determinado assunto ou tema; tais argumentos servem para explicar ou examinar um determinado fenómeno ou uma complexidade de conteúdos conexos. Então, a teoria ao explicar, examinar ou compreender tais conhecimentos, visa sempre ‘mostrar como as coisas são’.
Suscita a problemática dos críticos literários, uma vez que a literatura está mais para a problemática como o é a filosofia, do que como uma simples concepção comum da sociedade, Jorge Macedo assenta o seu discurso em uma verdadeira manifestação científica, e não são apenas subsunções das obras às subtis insinuações de alguma motivação doxográfica e ideológica desprovida de engajamento.
Pois é, para ele, pela caracteristica da sua orientação discursiva, a crítica literária é o fundamento de uma literatura; é a instituição onde se pode criar o leitor com faculdade e poder de impor sua interpretação literária aos demais e decidir se uma obra contém qualidade e poder para ser publicada, O Estado angolano devia, sugestivamente, reconhecer a importância do crítico literário Jorge Macedo.