na veia do silêncio
uma navalha
corvos em rios de pedras
debicam cicatriz
com pele ventada de cicatrizes
[tambor definiu fome sem cor]
urge imbondeiro seco de vertigem
seus dedos caninos ladram secura
naufrago no mar do amor
preencho o vazio
com as verdes algas do ego
É indubitável que ninguém parte do grau zero da escrita; que a posteridade está reservada para todos aqueles autores, que no seu tempo, a seu tempo, revolucionam a arte; e que o corpus literário não é uma estrutura compacta ou impenetrável, e sim um jogo eterno, no decorrer do qual, aqueles que não souberem jogar – acabam sendo substituídos.
No ano 148 mil paus de canoas, o sol parira a manhã e a sentença do Narrador tinha sido declarada. Como seria possível uma história sem você, Narrador?! Agora quem continuará esta história contar-nos?! Perguntara-lhe Kimbi, que assistia àquele teatro, pavidamente, numa praça à margem do rio-Povo Oceano Pacífico, bem ao pé dos pés do Narrador.
Vi a minha falecida mãe pela última vez durante as eleições de 2017. Tinham-se passado três ou quatro anos desde a sua fatídica morte. Acabava de sair da multidão. Tendo por perto apenas a sua própria sombra, estava numa das mesas a preencher o boletim de voto. A primeira reacção foi de um jovem do século XXI. Fiquei assombrado com tão inesperada presença!
um pé no alto
outro no baixo
no igual caminho
caminham desiguais